
Paraguaia acompanhava freira Geneviève Jeanningros 3d215e
Com sua mochila verde, sapatos gastos e o véu azul na cabeça combinando com seus intensos olhos azuis, a freira Irmã Geneviève Jeanningros entrou na fila na manhã desta quinta-feira (25), na Via della Conciliazione entre 128 mil fiéis e peregrinos que se dirigiam à Basílica Vaticana para prestar homenagem ao Papa Francisco. Ao seu lado estava Laura Esquibel, transexual paraguaia. q3y5w
“Fui a primeira transexual a apertar a mão do Papa Francisco. Eu o vi sete vezes, almoçamos juntos”, disse Laura.
O Papa, aliás, lembrava-se dela de vez em quando e elogiava os pastéis que fazia. “Ah, sim, claro, de vez em quando eu os fazia e enviava a ele. Gostava muito dele”, enfatizou.
Os telefonemas, as ajudas, as brincadeiras
A irmã Geneviève, religiosa das Irmãzinhas de Jesus, anjo dos circenses e dos ciganos, pobres e transgêneros, em Óstia, ouve, acena e sorri. Ela, a “boa menina”, o “enfant terrible” de quase 82 anos, era uma pessoa querida de Francisco, que lhe telefonava, a ajudava e, por vezes, até brincava carinhosamente com ela.
Numa visita ao Luna Park, em Óstia, onde a religiosa ou anos e anos do seu trabalho pastoral, o Pontífice perguntou aos circenses:“Expliquem-me uma coisa: o que é que a irmã Geneviève faz aqui? Ela doma leões?”
Em outro encontro, numa das muitas audiências gerais em que a religiosa estava na primeira fila, levando ao Papa grupos da qual ela cuida, Francisco, ao vê-la com uma faixa no braço, travou-se o seguinte diálogo:
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- – O que a senhora fez?
- – Santo Padre, eu caí
- – E o chão se machucou?
O choro diante do caixão –A imagem dela que viralizou, no entanto, é a de quarta-feira, dia da trasladação do corpo do Papa para a Basílica, quando, quebrando todo o protocolo, ela se desvencilhou da fila e foi até um canto chorar. Braços cruzados, lenço nos olhos, olhar voltado para o Papa, “amigo e irmão”.
Irmã Geneviève não quer comentar sobre esse momento: “Não aguento”, disse ela do lado de fora da Basílica de São Pedro, com os olhos ainda brilhando.
Esta é a quarta vez que ela vai ver o Papa, mas ele sempre tem a mesma reação. Hoje, todos a procuraram para uma entrevista ou uma lembrança:
“Não, não aguento. Não quero falar com ninguém, peço desculpas”, repete ela com seu forte sotaque francês. As irmãs divulgaram um depoimento em vídeo de um minuto em sites, rádio e TV.
“Eu gostava muito dele” –A religiosa concorda em compartilhar uma breve lembrança com a mídia vaticana, não para se gabar de uma relação especial, mas apenas – ressalta ela – para prestar homenagem a um “grande” Papa.
“Não consigo fazer isso porque é demais, sabe? Eu gostava muito dele. É assim.”
A religiosa disse que sentirá falta de Jorge Mario Bergoglio, “de seus olhos, do seu olhar”, de “quando me dizia para ir em frente. E também da ajuda”, disse ela.
“Tivemos muita ajuda. Sim, sim. Mas talvez mais uma ajuda moral, veja bem, nós viemos muitas vezes, sua acolhida não tinha limites. E também muita esperança”.
Pai, irmão, amigo –Ainda sobre o Papa Fracisco, elogia:
“Eu sempre digo que ele era um pai, um irmão, um amigo. Sentiremos sua falta. Isso é evidente! Fico emocionada ao ver tanta gente”, diz ela, afirmando que sua comunidade está “triste”.
“Viemos ontem à noite, hoje Laura está aqui. Espero os outros também”.
Na manhã desta sexta-feira, a irmã Geneviève rezou em frente ao caixão do Papa Francisco e, no final, mandou-lhe um beijo. Outro gesto de ternura depois das lágrimas de três dias atrás.
“Muitos me disseram: quando você for ver o Papa Francisco, leve-nos com você. Então, confiei tudos a ele.”